A justiça

Mais de vinte séculos de especulação sobre essa ideia nos antecedem e, apesar de tudo, dela ainda temos uma noção vaga. Apesar disso, filósofos, intelectuais, juristas, pensadores, políticos e homens de letras insistem em defini-las com alcance universal. Como a entendem? Comecemos por Platão em sua obra A República. Nesse diálogo, Transímaco diz ser justo "fazer o que é de interesse do mais forte". Sócrates a identifica como a virtude por excelência, que , se praticada, tornaria possível o Estado perfeito. Justiça prossegue Sócrates, respondendo a Glauco, consiste ainda em exercer o oficio que nos cabe socialmente. Fazer cada um o que lhe compete, não fazer o que for da alçada de outros, eis a "regra de ouro" da justiça socrática. Mas essa ideia nos dá uma visão parcial da justiça, válida em um mundo em que o saber desempenha papel relevante. Pitágoras concebe a justiça como igualdade. A reciprocidade de tratamento seria também, segundo ele, uma de suas modalidades. Aristóteles assim a concebeu: tratamento igual de homens e fatos. A “justiça distributiva, para ele, consiste na igualdade das relações. As honras devem ser dadas na razão do mérito: a repartição mal feita gera a injustiça, porque quem tem mais é uma ofensa a quem tem menos. A justiça corretiva, ao contrário, consiste na igualdade aritmética, punindo igualmente os delitos. É indiferente3 para a justiça que um homem probo tenha sido roubado por um biltre ou que se sucedesse o contrário. Os culpados são tratados como iguais.” Para Radbruch: “a medula da justiça é a igualdade”. Mas a lei, como nota Anatole France, com seu igualitarismo, proíbe igualmente ricos e pobres, furtar pão e dormir ao relento. Como vemos, a igualdade de todos perante a lei é meia justiça, apesar de a igualdade ser, como disse Radbruch, a medula da justiça. Sinônimo de injustiça são as desigualdades sociais. Por isso, a igualdade na maioria das vezes deve significar proporcionalidade ou, então, igualdade de