A imaginação sociológica

A vida contemporânea, nos grandes centros urbanos, pode provocar um desgaste no psicológico do ser humano e ocasionar mutações em seu temperamento. Esse fato ocorre devido às situações que muitos moradores destes locais afrontam em seu cotidiano, situações essas que podem levar a mente humana a uma explosão de sentimentos possivelmente prejudiciais aos indivíduos que vivem ao redor. No filme “Um dia de Fúria”, o protagonista vivenciado por Michael Douglas enfrenta vários conflitos pessoais que o levam a perder o controle de si e despertar a raiva que até então estava encalacrada em sua garganta. Um dos conflitos abordados no filme e vivenciado pelo protagonista é o divórcio; no enredo, a personagem principal julga sua separação como algo muito impactante em sua vida, apesar de ser um fenômeno já muito aceito pelo corpo social como um todo. A partir dessa concepção de William Foster (Michael Douglas), é possível inferir que o mesmo tem muito juízo de valor, ou seja, julga as situações de um ponto de vista muito pessoal, em vez de pensar racionalmente; isso torna Foster um ser egocêntrico, que não faz uso da imaginação sociológica (Mills, 1965). Apesar do protagonista não perceber ou admitir, assistindo ao filme é possível visualizar questões de ordem pública se transformando em perturbações individuais. Uma situação da obra na qual esse argumento é nítido, é o momento em que Foster vai a uma loja de conveniência e, ao perceber que os preços estão abusivamente altos, passa a destruir parte da loja devido à sua indignação. Esse episódio do filme pode ser relacionado com a reportagem “Paguei e queria levar”, na qual é relatada a revolta de um consumidor da loja Dicico, que também expressa sua indignação na forma de violência, por não ter recebido o que lhe fora prometido pela loja. A diferença entre as atitudes de Foster e do consumidor é que a ação de Foster foi afetiva emocional (Aron, 2000), uma vez que foi uma reação imediata guiada por suas emoções,