A igreja sem o teatro

IGREJA SEM TEATRO
O Senhor conhece os pensamentos do homem, que são vaidade. Salmos 94:11
A linguagem gestual humana é o ponto mais fraco da espécie no que diz respeito ao contradizer-se. Hoje testemunhei, de forma inequívoca, a contradição do gesto em relação a fala. Para os neurologistas, seria um exemplo perfeito para uma aula sobre os movimentos involuntários que o cérebro produz, em detrimento a frágil oralidade, construída sobre o alicerce movediço da razão e tendo como opositora a base animal emotiva.
Não adianta: por melhor que seja a escolha das palavras, seu corpo irá contradize-lo se a verdade for outra. E mesmo sabendo da maravilha que é o raciocínio lógico, é preciso admitir que as emoções são mesmo a mais autêntica expressão do Eu – sem convenções, sem respeito a civilidade, sem amaciantes da etiqueta.
Deveria ser uma missa de recepção de um novo pároco que passaria, a partir de hoje, a ser o responsável religioso por uma nova comunidade. Fui por algumas razões: meu respeito e carinho a esse sacerdote, a vontade de orar e o desejo de aproveitar uma oportunidade menos monótona de ir a uma missa (que Deus me perdoe, na maioria das vezes altamente sonífera).
Tudo corria conforme o esperado. O bispo esteve presente e celebrou o ritual. Ao lado do padre que estava sendo recebido em sua nova casa, mais dois. Dentre esses, um que me chamou atenção no quinto final da celebração. A medida em que a comoção ia tomando conta dos fiéis, vindos até de outra cidade para dar boas-vindas ao religioso, um incomodo físico foi tomando o outro. Aos poucos, seus movimentos denotaram impaciência. Havia um abanar-se, um olhar pros lados, uma falta total de concentração nas homenagens que seu colega de batina estava recebendo.
Quando os aplausos, testemunhos e até cânticos foram atingindo seu ápice, faltando apenas um casal de católicos que já estava a postos para uma última fala, o pobre padre não aguentou e interrompeu a sequência de tributos ao seu colega. Sem