A galinha
No nível narrativo, ocorre a passagem de um estado de disjunção da morte, pois a galinha de domingo está viva (ainda viva), para um estado de conjunção com ela, quando, enfim, a galinha é morta. O desdobramento da narrativa é, portanto, realizado a partir das transformações ocorridas com a protagonista, isto é, a galinha, como a fuga/ perseguição o animal, a sua captura pelo dono da casa, o seu salvamento e a sua posterior morte. Nesse sentido, pode-se inferir que a transformação narrativa que ocorre no conto “Uma galinha”, embora, inicialmente possa ser a de aquisição da vida e, até mesmo, de certo status, a galinha tornara-se a rainha da casa, na verdade, o que ocorre é uma transformação do tipo perda, uma vez que a galinha é despojada da vida.
Observa-se que a narratividade, isto é, transformação de estado da galinha, do texto de Clarice Lispector aponta para a leitura de um tema subjacente. Esse tema é (numa leitura possível) o da condição feminina na sociedade. Escrito em 1960 e inserido no primeiro livro de contos da autora, Laços de família, o texto “Uma galinha” representa a situação feminina a partir da alegoria da figura de uma galinha. O encadeamento das figuras e a escolha de um conjunto de figuras lexemáticas especificas contribuem para essa leitura temática do conto de Clarice Lispector.
No texto “Uma galinha” há palavras e expressões que se aplicam à personagem galinha, mas que servem para caracterizar o sexo feminino. Impossível é não ler na figura da galinha a representação da mulher passiva e