A criação

A criação dos seres vivos [39e3-41d3]
A criação dos deuses auxiliares e suas funções [41ª7-d3]
A alma e o corpo humano [41d4-46c6]

Timeu descreve a criação dos seres vivos pelo Demiurgo explicando que ela foi feita a partir de um modelo ou paradigma, a realidade ontológica ideal:

Assim, a divindade decidiu que o mundo deveria ser dotado de todas as formas distinguidas pela mente no animal que verdadeiramente existe, não importando sua natureza e número. São quatro: a primeira é a raça celeste dos deuses; a segunda, a raça dotada de asas que cortam os ares; a terceira, a espécie aquática; e a quarta, a que marcha na terra firme (Platão, 2001, p. 76).1

Na tradução francesa de Luc Brisson e Michel Patillon (Paris: GF Flamarion, 1999), zôon) é traduzido por vivente, significando na passagem em questão a forma do ser vivo. Poderíamos também utilizar os termos animado, animal e ser-vivo.

É interessante notar que o critério parece ser a forma de locomoção. Mas veremos em 90e-92c que para além da locomoção há aqui um sentido ao mesmo tempo metafísico e moral.

Os deuses-astros (as estrelas fixas, os planetas conhecidos, a Lua e a Terra), são viventes/animais divinos e eternos, que justamente por serem animados, giram uniforme e eternamente no mesmo lugar.

As espécies restantes foram criadas por deuses auxiliares, uma vez que na condição de seres mortais não poderiam ter sido criadas pelo Demiurgo, pois então se assemelhariam a deuses imortais. No caso dos humanos, “foi fornecida pelo Demiurgo alguma coisa que fosse divina e deveria comandar os que se dispusessem a seguir a justiça e os deuses auxiliares: a alma como semente e princípio” (cf. 41c).

Assim, desde a sua criação, pelo fato de possuir um princípio divino, o homem difere dos animais. Como desde o início esse princípio é identificado com a alma racional, o que nos diferencia dos animais é a razão, e aquilo que nos aproxima deles é nossa animalidade comum, o fato de termos as mesmíssimas