A Clínica
Gastao Wagner de Sousa Campos - 1996-1997
Este trabalho está dedicado à Franco Basaglia.
l - A CLÍNICA EM GRAMSCI, SARTRE E BASAGLIA:
Um trabalho sobre a Clínica que começasse discutindo com Gramsci, em seguida citasse Sartre e, depois, rendesse homenagem à Basaglia. Um dos primeiros médicos modernos a sugerir que as práticas em saúde deveriam se orientar por uma fenomenologia materialista. Sim, Franco Basaglia sentiu-se obrigado a responder de maneira concreta à materialidade horripilante produzida pela psiquiatria aplicada em pacientes reclusos nos manicômios, e este seu compromisso com a prática e com as pessoas pelas quais ele se responsabilizara o impediram de operar apenas com conceitos críticos. Por isto ele necessitou inventar alguma coisa que operasse no lugar do saber negado. Paulo Amarante analisou este movimento de negação e de reinvenção das políticas e das práticas em saúde mental em seu livro O Homem e a Serpente (Amarante, P., 1996).
Em certo sentido, um pioneiro neste esforço de compatibilizar determinação estrutural com processos mutantes operados por Sujeitos concretos foi o filósofo e militante esquerdista Antônio Gramsci. Alguém com quem a medicina nunca dialogou e a quem, a Saúde Coletiva, bastante influenciada pelas várias nuances do chamado materialismo estruturalista, sempre desdenhou. Pena, porque com isto perdeu-se uma oportunidade de recolocar em cena alguém que, sem aderir ao idealismo, havia reconhecido o potencial criativo das massas, dos agrupamentos e dos indivíduos. A possibilidade de inventar o novo, apesar das determinações ou dos condicionamentos estruturais, quer fossem eles biológicos, biográficos, econômicos, políticos ou históricos. lsto lhe valeu a acusação de voluntarismo, de subjetivismo e de hipervalorizar o papel instituinte dos sujeitos fazendo história. E para ele se fazia história de múltiplas e variadas maneiras. Ele foi um dos primeiros a