wffgg

1013 palavras 5 páginas
O sequestro da democracia na América
Tiago Moreira de Sá

Numa das últimas cenas do filme Argo, premiado com o óscar em 2013, os mentores do plano de resgate dos norte-americanos que ficaram reféns no Irão na sequência da revolução islâmica de 1979 comemoram com champanhe o sucesso da sua libertação das mãos dos Ayatollahs. Segundo as informações que vieram a público, a Administração Obama celebrou com champanhe o resgate do governo dos EUA das mãos do Tea Party. Não obstante a importância desta vitória do presidente, sobretudo pelas suas consequências no “Obamacare”, o problema do bloqueio do governo norte-americano não só está longe de estar resolvido, como transcende em muito o Tea Party, sendo este mais a consequência do que a causa. Esta última deve ser encontrada no tríptico “governo dividido” / “polarização” / “primárias”, que, de resto, tem ocupado os cientistas políticos nos últimos anos.
O “governo dividido” ocorre quando um partido controla a Casa Branca e o outro uma ou as duas Câmaras do Congresso. É o que se passa actualmente, com um presidente democrata, uma maioria republicana na Câmara dos Representantes e uma maioria democrata no Senado mas não à prova de Filibuster, isto é, inferior aos 60 senadores que são precisos para impedir a minoria de bloquear a acção legislativa na Câmara alta. Como escreveu David Mayhew, isto não só não é novo, como não é em si mesmo um problema. Entre 1952 e 2010 sucederam-se os “governos divididos” (aconteceram em 19 de 29 eleições para o Congresso e 14 para a presidência) e estes foram capazes de aprovar quase tantas leis importantes quando os “governos unificados”. O que é novo é o facto de hoje se estar a assistir à emergência de um “governo ideologicamente dividido” que conduz à incapacidade de o governo funcionar (o chamado Gridlock).
Grande parte deste desenvolvimento tem a ver com a crescente “polarização” do sistema político–partidário norte-americano, traduzido no desaparecimento do centro moderado

Relacionados