Vis O Mauricio
1998
Cérebro
Um jogo de montar, a visão
O cérebro transforma cada imagem num quebra-cabeças. Ele divide o que você vê em vários pedaços e depois monta tudo outra vez. por Claudio Angelo
O olho capta as imagens do mundo exterior mas, na verdade, não vê nada. Toda a luz projetada na retina é decomposta e transformada em sinais elétricos. Eles seguem, então, pelo nervo ótico e são decodificados na parte de trás do cérebro, o córtex visual. É ele que reconhece as cores e as formas, além de sobrepor as imagens dos dois olhos e perceber os movimentos. O córtex visual ainda funciona às vezes de arquivo, guardando as imagens na memória e combinando-as sempre que necessário. Os cientistas ainda estão queimando neurônios para saber como esse superlaboratório fotográfico trabalha. Mas sabem que pelo menos metade do córtex, a sede da inteligência, está associado à visão.
“O processo de percepção visual é mais ou menos como a digestão de um bife”, compara o neurofisiologista Vinicius Baldo, da USP. “As imagens são quebradas e cada área do córtex analisa um pedaço separadamente.” Esse processo começa na própria retina. Uma camada de células nervosas capta os impulsos gerados nos cones e bastonetes e os despacha para o tálamo, no meio do cérebro, pelo nervo ótico. De lá, os impulsos são transferidos para o córtex visual primário, também chamado V1 (veja o infográfico abaixo). Essa área tem células especializadas no reconhecimento de linhas. Para essas células não interessa o recheio da imagem, e sim os contornos. As imagens tridimensionais são decompostas em bordas, interpretadas a partir da relação entre claro e escuro. É por isso que você reconhece uma pintura como uma imagem em três dimensões, apesar de ela só ter largura e altura. Na área V1 estão ainda as “portas”, por onde o impulso nervoso viaja para outras áreas do córtex. “O grande mistério é saber em que momento todas essas partes se juntam”, afirma Baldo. “Essa é a chave da consciência”.
Alcance versus