Viajar Perder Países! Fernando Pessoa

Viajar! Perder Países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Uma imagem vale mais que mil palavras, e esta pintura do ano de 1978 de Costa Pinheiro resume na perfeição a temática central do poema. A fragmentação do eu é evidente, e como podemos observar no segundo verso do poema, (“ser outro constantemente”), remete para a constante busca de si próprio. A necessidade que Fernando Pessoa teve para criar heterónimos que completem a sua vida, criar um tudo que complete o nada do vazio que a sua existência simples não pode completar, que só pode ser preenchida através de experiências de várias vidas em simultâneo, uma alma que detém vários eu's presos nos confins dos seus conhecimentos que abrotam à superfície em manifestações de angústia por não ser possível conhecer tudo sendo só um!
Este poema é constituído por três quadras com rima cruzada, esquema rimático abab e com versos de sete sílabas métricas, ou seja, constituído por redondilhas maiores.
Quanto aos recursos estilísticos, temos logo presente no título do poema um paradoxo. Viajar e perder países são conceitos diferentes pois viajar é a fuga à realidade, viajar é algo mais mas perder está associado a algo menos, logo há um paradoxo na medida em que viajar pode ser uma fuga à realidade. No terceiro verso do poema, (“Por a alma não ter raízes”), temos uma metáfora que demonstra que o Ortónimo não se prende a ninguém, nem se quer a si mesmo. No quarto verso do poema, (“De viver de ver somente”), encontra-se uma aliteração que nos remete para a experiência pois não basta observar para encontrar a sua própria identidade. No sexto verso do poema, (“Ir em frente, ir a seguir”), remete para as viagens constantes que o sujeito poético