Val Ry Proust E A Experi Ncia

Valéry, Proust e a experiência dos museus
De uma polêmica entre Valéry e Proust, coordenada por Adorno, pode-se arrancar tantos elementos convergentes quanto divergentes, mas não é possível prolongar o debate até o infinito: em algum momento seus argumentos já não são mais suficientes para declarar quem tem razão, talvez justamente porque nenhum deles pensasse e escrevesse a partir de estofos metodológicos predefinidos, e ao mesmo tempo cada um granjeasse à sua obra o máximo de rigor compatível à sua experiência com o fenômeno. Mais acertadamente, ao menos dentro do que está ao alcance desta tese, é possível investigar em que medida talvez seja o próprio Adorno quem traçou uma encruzilhada entre seu pensamento e a obra dos dois franceses; os tomou como paradigmas problemáticos, reinterpretando-os e os assimilando. Nesse sentido, é interessante explorar algumas vicissitudes que marcam a maneira como Adorno lê e interpreta as obras de Paul Valéry e Marcel Proust. Destacar-se-á a forma como Adorno simultaneamente defende, a certa distância, o pensamento de um e outro e os incorpora ao seu próprio modo de pensar a literatura, sobretudo no que diz respeito à autonomia da obra e à sua relação imanente com a sociedade. A finalidade desta exploração é, pois, corroborar a importância destes escritores que souberam conciliar suas produções artística e teórica, para o modelo de leitura imanente em Theodor Adorno.
Num texto escrito em 1953 e intitulado “Museu Valéry Proust” a guisa de explorar as discrepantes experiências dos dois escritores acerca dos museus de arte, depois de ressaltar os pontos fortes de cada perspectiva, a saber, a crítica de Valéry ao museu como espaço de barbárie e a defesa deste por parte de Proust, que o via como lugar de memória e sobrevida da arte, Adorno porta-se como uma espécie de juiz; mas sua sentença longe de postular a vitória desde ou daquele, insiste nos aspectos dialéticos da polêmica. Todavia, o mais estranho é que, para Adorno,