Um e um

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Introdução
“Cada caso é um caso” é um lema que ouço freqüentemente nos corredores de serviços públicos
— entre assistentes sociais, enfermeiras, psicólogos, juízes e professores. É usado habitualmente por pessoas que mostram grande sensibilidade aos fatos concretos a sua frente e que demonstram um espírito crítico diante de estereótipos do senso comum.
De forma inquestionavelmente salutar, usam essa frase (“Cada caso é um caso”) para rejeitar preconceitos sobre “nordestinos”, “caboclos”, “negros” ou, simplesmente, “pobres”. Este mesmo espírito crítico, em muitos casos, serve até para questionar a aplicabilidade de teorias livrescas, para sublinhar o fato de que a realidade não se encaixa facilmente nos tipos ideais propostos nos manuais escolares.
Mediante sua prática profissional, os agentes sociais aprendem a desconfiar de fórmulas pré-fabricadas.
Quando cada caso NÃO é um caso
Pesquisa etnográfica e educação*
Claudia Fonseca
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Trabalho apresentado na XXI Reunião Anual da ANPEd, Caxambu, setembro de 1998.
Na filosofia de “Cada caso é um caso”, exigiriam de si mesmos um olhar atento às circunstâncias particulares de cada aluno, de cada parturiente, de cada paciente. Em princípio, não haveria como brigar com a sabedoria de tal disposição.
É interessante e até gratificante notar que a frustração com tipologias massificantes e teorias sumamente abstratas tem levado muitas pessoas a procurar na antropologia e, em particular, no método etnográfico uma nova “solução” para seu dilema profissional — um tipo de elo perdido que ajudaria a fechar a lacuna entre a teoria e a realidade.
A etnografia é calcada numa ciência, por excelência, do concreto. O ponto de partida desse método é a interação entre o pesquisador e seus objetos de estudo, “nativos em carne e osso”. É, de certa forma, o protótipo do “qualitativo”. E — melhor ainda — com sua ênfase no cotidiano e no subjetivo, parece uma técnica

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