UM POETA INIGUALÁVEL
Melo Neto
João Cabral de Melo Neto (1920-1999) nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 21 de junho de
1868. Filho de Luís Antônio Cabral de Melo e de
Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo. Passou a infância entre os engenhos da família nas cidades de São Lourenço da Mata e Moreno.
Estudou no Colégio São Luís, no Recife. Lia tudo o que tinha acesso, no colégio e na casa da avó.
Traços da vida profissional de
João Cabral de Melo Neto
Foi
na Associação Comercial de Pernambuco, em
1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do
Estado.
Membro
da Academia Pernambucana de Letras e da
Academia Brasileira de Letras
Em
1942 publicou de seu primeiro livro, Pedra do
Sono.
Alguns
poemas presentes na obra:
Tecendo a Manhã
O Relógio
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.
O Relógio
Ao redor da vida do homem há certas caixas de vidro, dentro das quais, como em jaula, se ouve palpitar um bicho.
Se são jaulas não é certo; mais perto estão das gaiolas ao menos, pelo tamanho e quadradiço de forma.
Umas vezes, tais gaiolas vão penduradas nos muros; outras vezes, mais privadas, vão num bolso, num dos pulsos.
Mas onde esteja: a gaiola será de pássaro ou pássara: é alada a palpitação, a saltação que ela guarda; e de pássaro cantor, não pássaro de plumagem: