Troca e Poder

Troca e poder: filosofia da chefia indígena

O poder político nas sociedades primitivas estava divido entre duas acepções, opostas, porém complementares, segundo a etnologia. A primeira defende que as sociedades primitivas não possuem organização política, com a falta de um órgão claro que tivesse a incumbência dessa tarefa. Há uma verdadeira estagnação dessas sociedades, as quais passavam por uma fase pré-política ou anárquica. A segunda idéia advoga de maneira oposta, uma vez que conduz as sociedades primitivas à existência de instituição política, porém esta se transforma em um poder despótico ou tirano. A etnologia condenava os não-ocidentais ao fracasso, diante desse dilema, negando o meio termo, a medida certa do poder político. (“[...] essa complementaridade dos dois extremos, ambos concordando entre si, um pelo excesso, o outro pela falta, em negar a “justa medida do poder político”, Pierre Clastres, p. 45).

Quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil e, logo em seguida, os etnógrafos verificaram nas observações realizadas que na maioria dos indígenas praticamente não tinha na chefia uma autoridade, com algumas exceções como os Taino das Ilhas, os Caquetio, os Jirajara ou os Otomaque. Contudo, na maioria das sociedades indígenas o que se percebeu como principais característica a ausência de estratificação social e de autoridade do poder, citando-se por exemplo os Yahgan da Terra do Fogo e os Ona (“É então a falta de estratificação social e de autoridade do poder que se deve reter como traço pertinente da organização política da maioria das sociedades indígena [...]”, Pierre Clastres, p. 46).

Diante disso, qual seria a função de um chefe sem autoridade? Segundo Robert Lowie, o líder indígena deve possuir três propriedades:
I) O Chefe é um fazedor de paz, que funciona como uma espécie de mediador ou conciliador dos conflitos internos;
II) O líder deve ser generoso, não devendo acumular bens materiais, os quais devem ser dados aos demais