trabalho psi analitica trickster

INTRODUÇÃO

Trickster é o herói embusteiro, ardiloso, cômico, de natureza ambígua: animal e humana, maléfica e benéfica, sublime e grotesca. O primeiro a descrevê-lo foi Paul Radin em sua análise antropológica do ciclo heroico dos índios norte-americanos Winnebagos. Entre estes e outros índios norte-americanos, o trickster assumiria a sua mais primitiva e arcaica forma: é simultaneamente criador e destruidor. Ao trickster expressam diversos aspectos da “liminaridade”, sendo a ambiguidade o traço fundamental do herói e, muito embora permaneça de certa forma alheio à humanidade, não deixa de ser familiar e simpático aos homens, pois realiza tudo aquilo que todos, secretamente, gostariam de fazer.
Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro que habita o imaginário da população, originando-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil durante o período colonial no final do século XVIII. Ao longo dos anos foi ganhando outras características como apenas uma perna só, o gorro vermelho e o cachimbo. Sua principal característica são as travessuras.
Sabe-se que o grande problema do mal é a recusa em admiti-lo, emoções e comportamentos negativos, bem como talentos não expressos, dons não desenvolvidos e a porção infantil, ficam escondidos logo abaixo da superfície, mascarados pelo nosso ego. Essa sobra revela aspectos existentes em todos, na dualidade representada pelo arquétipo de trickster. No Brasil esse arquétipo se manifestou na forma do saci que, diferente de suas origens, hoje possui traços infantis de travessuras mais delicadas e até virou personagem heroico de história infantil.
A questão levantada sobre o que teria ocorrido com as características negativas que foram suprimidas da imagem do saci são elaboradas a partir de Açai de Alcântara (2007) com uma hipótese de que há uma relação entre o material abolido do mito e uma característica bastante conhecida do povo brasileiro, a esperteza, a astúcia. Observa-se que o material desprezado ganha força no inconsciente