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“….Esse é o nosso navio negreiro…”[1]
Tatiane Portilio Lemos
“…A minha violência está nos meus papéis…nos meus direitos…”[2]. Esta frase é dita logo na primeira cena do filme brasileiro “Quanto vale ou é por quilo?” de Sérgio Bianchi, sendo uma verdadeira bomba explícita, crua e real. Aliás, não é apenas uma “bomba”, mas uma “mina” terrestre, onde se ousa colocar os pés, os olhos e os sentidos, correndo os riscos propostos no filme. Riscos estes de acordar para a realidade.
Neste artigo a proposta inicial será de tratar brevemente de uma das tantas questões levantadas por Bianchi: a questão racial dentro do processo histórico-social no Brasil.
Sendo que neste ponto, aborda-se também os tópicos relacionados com Direitos Humanos, onde o filme poderá servir em outros momentos como importante elemento desencadeador de reflexão a respeito das violações desses direitos na sociedade atual, e, em uma análise mais profunda, pensar sobre as possibilidades da violência e da criação de estereótipos, estéticas e paradigmas através dos meios de comunicação, da perpetuação de (pré)conceitos, das tradições cristalizadas, dos costumes, tanto nas percepções cotidianas, quanto na colocação de tais percepções dentro de um processo temporal e secular.
Por ser uma obra cinematográfica o uso da linguagem é complexo, o que permite várias interpretações e conceituações de um mesmo ponto. Os inúmeros olhares que podem ser lançados ao filme direcionam ao debate e a posicionamentos críticos e relevantes para questões históricas importantes que muitas vezes concentram-se em embates teóricos e acadêmicos com poucas implicações práticas. O que Sérgio Bianchi consegue fazer é transformar a superficialidade do tratamento de pautas cruciais da sociedade brasileira em chocantes e fundadas cenas da vida, dos sonhos e da morte de um tempo revelador, e repetitivo, inovador e cíclico, ordenado e caótico, redentor e doente em si. Tal