TEXTO DISSERTATIVO A CERCA DA PEÇA “O AUTO DA ÍNDIA” DE GIL VICENTE

A professora doutora Irley Machado em seu artigo “Gil Vicente: o teatro e o ambiente medieval de sua obra” disserta sobre as relações entre a obra de Gil Vicente e o teatro europeu medieval. O objetivo do texto que seguirá, a partir do trabalho de Machado, é uma análise demonstrativa da obra “O Auto da Índia” (1506). O mencionado trabalho vicentino pode ser caracterizado como uma farsa, que de acordo com a autora “dá a imagem de um mundo amoral, onde reina a artimanha e o engano” (pág. 13), cujo valor não era reconhecido na época medieval. Para que se estabeleça uma melhor compreensão da obra de Vicente e de seus impactos e semelhanças com o teatro da época, é necessário que haja certa elucidação a respeito dos conceitos e valores da arte medieval. Nesta época, o fazer artístico possuía forte caráter doutrinador, moralizante, tinha como objetivo a transmissão de valores daqueles que o controlavam. Como Irley lembra ao citar G. Duby “a obra de arte era, sobretudo, afirmação de poder. Ela celebrava o poder de Deus, o poder de seus servidores, dos chefes de guerra e dos ricos. Ela reforçava este poder, mostrando-o e justificando-o” (1997, p.9). Isto se deve a apropriação da arte popular por parte da igreja católica que detinha grande poder e influência sobre diversos setores, e utilizava-se também desta área para reafirmá-lo e sustentá-lo. O teatro do período medieval possuía um público analfabeto, sem instrução para quem as artes, especialmente as visuais (neste caso, o teatro), tinham grande importância no que tange a educação, obtenção de informação e instrução. Acreditava-se que o conteúdo imagético tinha um caráter altamente lúdico para esta parte da sociedade que não podia recorrer à literatura; daí se pode compreender o interesse em transformar estas artes em algo moralizante. Este teatro de cunho litúrgico perdura até certo momento, quando entra em declínio e passa a dividir espaço com outro tipo um tanto quanto mais “liberto”, com um teor mais