Teste 1

Dia após dia os outros são ignorados. Os outros que não apresentam algum confortável reconhecimento, que não pertencem a algum estereótipo seu. Aqueles que passam do seu lado e você não vê. As vezes até esbarram, porém, nesse caso, tudo o que se faz é direcionar um olhar distante e umas palavras vãs, algumas acompanhadas por um sorriso simpaticamente impessoal, como quem quer somente cumprir uma regra social, a cordialidade. Em lanchonetes, livrarias, lojas de conveniência, mercados, enfim, em locais repletos de gente, encontramos na verdade uma infinidade de decisões que formaram aquelas pessoas. Quais são essas decisões? Costuma-se ignorar que todos representam algo, personificam um conjunto de ideias e encenam suas próprias vidas. Quanta beleza é ignorada.
Todos nós contamos nossa história de vida através de nossas roupas, corte de cabelo, acessórios e se estamos confortáveis ou não com eles. Nossas expressões faciais, tom de voz, o número de vezes que olhamos para objetos e pessoas, o padrão por trás do que escolhemos olhar, e ainda, quando não olhamos (muitos não o fazem), a maneira como reagimos ao perceber que estão nos observando e o tempo que levamos para perceber. Trata-se daquela velha frase “Não é o que fazemos, é como o fazemos e porquê fazemos.” Não é a cerveja, é qual cerveja, em qual bar, se está bebendo satisfeito ou tentando apagar o dia, acompanhado, por quem, o que fazia antes de chegar aqui. Contamos histórias sinceras, espontâneas e outras inventadas em gestos ensaiados. Não importa. Queremos contar, gostamos de contar e contamos em silêncio, só para os interessados. Eu me interesso.
Está lá, não lembro desde quando mas está lá. As mesmas perguntas estão lá. A mesma inquietude está lá. “Me deixa te conhecer? Quero saber, me conta o que você veio fazer aqui? Por que aqui? Com quem você está? Está feliz agora? Como foi o seu dia? E a sua vida? Quais são os seus pontos altos? Com quem você se relaciona? Por quê? Qual é a sua bebida