Teoria de habermas
Denise Vitale
O PAPEL DA DEMOCRACIA NO PROJETO MODERNO A questão da democracia assume posição central no pensamento de Habermas. O ponto de partida do autor é dado pela idéia de um projeto incompleto da modernidade. Contrário à tese que
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CADERNO CRH, Salvador, v. 19, n. 48, p. 551-561, Set./Dez. 2006
O objetivo deste artigo é explorar as possibilidades e os limites do modelo da democracia deliberativa, a partir da construção teórica de um de seus principais autores, Jürgen Habermas. Embora o debate sobre o conceito de democracia deliberativa tenha recebido diversas contribuições, que dialogam criticamente com a formulação inicial de Habermas, não abordaremos aqui o conjunto dessas críticas, o que mereceria um outro artigo. As análises que se seguem têm como foco a proposta habermasiana para uma política deliberativa e a indicação de alguns de seus limites, particularmente referentes à relação entre democracia e desigualdades e à fundamentação dos direitos sociais e econômicos.
considera a modernidade um período já esgotado – e então substituído pela chamada pós-modernidade –, Habermas identifica sérios limites no conceito de Razão adotado nos últimos séculos, que teriam obstruído a implementação do projeto emancipador anunciado pelo Iluminismo. A crise da razão estaria fundada numa recorrência estrita e numa compreensão incorreta do conceito de razão. O rompimento da modernidade com a unidade ética, marcada pelo elemento unificador do sagrado, provocou a fragmentação das diversas esferas de valor que começaram a se diferenciar umas das outras a partir de critérios de racionalidades específicas. Esse processo foi primeiramente identificado por Max Weber com a idéia de desencantamento do mundo. Para Weber, à medida que o processo de racionalização avançava, os elementos cognitivo, estético-expressivo e moral-avaliativo destacavamse da tradição religiosa e tornavam-se livres para seguir suas lógicas próprias (Habermas, 1984, p. 163).