Sylvia Moretzhon - Artigos

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Maré, ame-a ou deixe-a
Por Sylvia Debossan Moretzsohn em 01/04/2014 na edição 792
Se todo megaevento tem seus patrocinadores oficiais, por que não as UPPs? A Rede Globo cumpriu exemplarmente esse papel na manhã de domingo (30/3), ao interromper a programação no município do Rio para passar a transmitir ao vivo a entrada dos militares no Complexo da Maré, uma região plana de 15 favelas e 130 mil habitantes, junto à Linha Vermelha, principal via de acesso entre o centro da cidade e o aeroporto internacional Galeão-Tom Jobim.
Havia conflito? Tiroteio? Não, nada. Tudo uma tranquilidade só.
Que as câmeras estejam ali alertas para qualquer eventualidade, é uma coisa. Que, só por estarem ali, tenham de transmitir ao vivo a banalidade da vida – já que não ousam insinuar que a tranquilidade é apenas aparente, que todos se recolheram às suas casas como fazem quando a polícia está na área –, vai uma grande diferença.
A vida sem sobressaltos, vista do alto do helicóptero, é notícia? É algo que justifique alterar a grade de programação?
Talvez sim, para efeitos de propaganda. A imposição da paz, as criancinhas passeando nos cavalinhos da PM, acenando para a câmera, ajudando os militares a hastear as bandeiras. Típica representação da harmonia do país que vai pra frente. Ainda mais às vésperas da Copa. Pra frente, Brasil. Ame-o ou deixe-o. Como nos velhos tempos.
Como no pior dos tempos.
Nada de novo
A transformação do jornalismo em propaganda, flagrante nesse apoio incondicional à política de “pacificação” a que os veículos das Organizações Globo aderem, já foi criticada aqui inúmeras vezes. Não há espaço para o contraditório. Nenhuma discussão sobre a legalização das drogas como forma de desarmar a luta sanguinária pela ocupação de territórios para o comércio ilegal: apenas mais do mesmo, o eterno discurso sobre a dificuldade e mesmo a impossibilidade de se fiscalizar as fronteiras desse

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