Sarraute_Sobre a palavra imperfeita

7762 palavras 32 páginas
Sobre a palavra imperfeita

"A Palavra Amor" de Nathalie Sarraute

Ângela M_2013

Introdução

O texto “A Palavra Amor”, ainda que de curta extensão, permite tomar contacto com o universo criativo de Nathalie Sarraute e as preocupações que lhe subjazem no domínio da linguagem. O tropismo1 aqui em análise é a «experiência amorosa», essa corrente sensorial que apelidámos de «amor», mas cuja complexidade não seria redutível a uma palavra, qualquer que ela fosse. Ao mesmo tempo, que a autora disserta sobre as limitações da expressão verbal para dizer o humano, ela explora o «percurso natural» do amor, levando-nos a percorrer o seu caminho do nascimento à morte ou transformação.
O texto em análise permite-nos despoletar várias reflexões sobre a experiência humana e sua comunicação. As palavras não são aqui vistas como elemento libertador, mas como veículo manifestamente insuficiente para dizer o que somos e o que sentimos; a palavra como aprisionamento e limitação de um sentido que é sempre mais vasto e mais ambíguo do que ela pode abarcar.
Por outro lado, a narrativa apresentada por Sarraute também permite reflectir sobre o nascimento, vida e extinção de um acontecimento tão familiar quanto enigmático para o homem: o amor. O conto de Sarraute explora, portanto, duas temáticas: o percurso do «sentimento amoroso» e a palavra que o nomeia.

I.

Um conto que é afinal um ensaio?

O presente trabalho pretendia a exploração de um conto, tendo a nossa escolha recaído sobre “A Palavra Amor” de Nathalie Sarraute, presente no livro “O Uso das Palavras”, edição Difel de 1987 (L’Usage de la Parole. Gallimard: 1980). No entanto, já depois de iniciado o estudo, demo-nos conta que o tradutor, Daniel
Gonçalves, apresentava o texto como um ensaio. Considerámos

então

necessário

proceder a uma clarificação do que distingue os dois géneros literários, para o que nos
1

Termo que na Biologia significa a reacção de um organismo a um estímulo

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