Robert hertz e a antropologia do corpo

SHIRLEY TORQUATO
RESENHA DO ARTIGO :HERTZ, Robert. “The Pre-eminence of the Right Hand: a Study in Religious Polarity”.In: Rodney NEEDHAM, Rodney. Left and Right . University of Chicago Press, 1973

Neste ensaio sobre a polaridade religiosa a partir das mãos, Robert Hertz, alem de expressar uma importante contribuição ao campo das representações cosmológicas em torno do sagrado e do profano põe também em evidência a dimensão da corporalidade na organização dos sistemas sociais. Assim em simetria à horizontalidade da polaridade direita- esquerda; sagrado-profano; a mão direita é considerada hierarquicamente superior à mão esquerda. Antes de fazer sua analise sociológica acerca das classificações e uso do corpo, o autor propõe uma abordagem fisiológica do mesmo. Sendo assim, se do ponto de vista fisiológico não existe diferença entre as duas mãos, do ponto de vista social a mão direita engloba a mão esquerda na medida em que esta é identificada como a totalidade do sistema. O mesmo principio aplica-se quando comparamos mãos e pés. A posição das mãos em relação ao corpo pertence ao plano da superioridade. No plano prático, em diferentes épocas quando comparada aos pés as mãos estão ao lado da escrita, da arte erudita, do culto, próxima a esfera da razão, superando o movimento das pernas e dos pés, veículos do nomadismo, da errância, da dança e do prazer. Robert Hertz segue uma interpretação dualista, tendência desenvolvida pela Escola Sociológica Francesa liderada por Emile Durkheim e Marcel Mauss, que examina diversas formas de classificação sociais, sobretudo das sociedades ditas primitivas, segundo a hipótese de que as taxonomias, classificações das coisas e o seu valor simbólico são construídos a partir de uma perspectiva dual, como por exemplo, o diferencial que atribui-se às mãos direita e esquerda à dicotomia “puro ou impuro” observada em quase todas as culturas. Esse dualismo é construído essencialmente a partir das formas elementares