Resenha "Sobre a Leitura" de Proust
Sandro Aguiar²
Sobre a leitura foi um prefácio, uma apresentação do livro Sésame et les Lys, de John Ruskin, traduzido por Marcel Proust. Contudo, o enredo desta desencadeou memórias de outras leituras, de outros tempos, de sua infância.
Revolvendo uma busca pela infância, Proust reproduz em sua obra reminiscências que transferem situações de vivência para apresentar sua relação com a leitura. Como descreve Silva (2013),
O leitor Proust descreve a sua relação com o mundo abrigado nos livros: as sensações apreendidas em cada parte do enredo; o momento do dia escolhido para ler; o diálogo com os personagens, os sentimentos a elas direcionados e a dor dos laços cortados após o epílogo; [...]
Essas enumerações impressionáveis dialogadas na obra revelam a capacidade do autor em “[...] dizer coisas que qualquer um já pensou e já sentiu antes, e ele diz como se fosse o meu (o seu) próprio pensamento quem o dissesse.” (LEE, 2013).
É através desse apelo que Proust durante o seu prefácio vai concedendo a sua discussão e, também, perspectiva sobre o ato da leitura. Essa perspectiva lança-se contrária sobre o diálogo empregado por Ruskin quando este defende sua tese de que
“[...] a leitura seja como conversação com homens muito mais sábios e mais interessantes que aqueles que podemos ter a chance de conhecer à nossa volta”
(PROUST apud RUSKIN, 2001, p.27). O que Ruskin afirma revela uma ideia de leitura simplória, conclusiva, conversativa, e discernente à leitura comunicativa enunciada por
Proust. Pois, a ideia de leitura que Proust defende é incitadora, provocativa, instigante.
É possível verificar a relevância da perspectiva defendida por Proust quando
Lajolo (2001, p.38) assevera que "Não é o uso da linguagem que define sua literalidade, mas a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação de leitura". São exatamente com essas sustentações que a obra de Proust centraliza a sua defesa quanto à