Resenha de "A Vida que ninguém vê"

A Vida Que Ninguém Vê – Eliane Brum Eliane Brum sempre foi o tipo de jornalista que arrisca, que é capaz de esquecer certa pauta que lhe foi designada para seguir sua intuição de achar outra muito mais incrível. Esse talento lhe rendeu uma carreira invejável por qualquer jornalista aspirante a escritor (como eu). Pode se enxergar a atitude de Eliane como uma jornalista remando contra a maré, aquela que fez um movimento diferente dentro de uma área que não se admite fugir muito de uma forma de fazer. Aventurou-se. Preferiu contar histórias “não atrativas”, sem muito valor para uma notícia no molde tradicional. Um dos trabalhos mais marcantes de sua carreira foi como colunista do Jornal Zero Hora, onde publicava crônicas-reportagens baseadas em histórias reais de pessoas “simples” – se essa é a palavra certa para usar – retratados em situações do cotidiano. Eliane deu um rosto e uma história às pessoas que ignoramos todos os dias deduzindo que são desinteressantes. Os melhores textos, de seu trabalho impecável, foram selecionados e publicados em um livro, em 2006, com o mesmo título de sua coluna, A vida que ninguém vê. Que título! Nos leva a pensar nas vidas que ninguém vê ou se interessa, e em maior profundidade, que não é importante, é algo inferior, isentas de serem notadas, de merecer atenção. Mas por outro lado, são vidas que Eliane se desdobra a ver e mais do que isso, fazer com que os outros vejam. Não ver apenas, mas senti-las, seja por nos roubar o riso por ser engraçado, por serem tristes, contagiantes, por serem histórias de superação, fracassos. Mas como não ver tais vidas, enredos tão reais? É preciso fazer-se notar. Mas como se não há espaço para essas histórias pelas vias dos textos tradicionais? A resposta, Elaine sabia, era fazer um misto da reportagem com a crônica. Juntos, o jornalismo e a literatura são recorrentes ferramentas usadas por Eliane, tanto para entrevistar, investigar aquilo que se dispões a relatar (jornalismo) e para