Resenha crítica do filme laranja mecânica

Resenha crítica do filme Laranja Mecânica

Por Gabriela Hayashida

O filme Laranja Mecânica (1971), do diretor Stanley Kubrick, mostra relações claras de um modo de vida adequado aos moldes da hipocrisia humana. Alex DeLarge (o anti-herói vivido por Malcolm McDowell), líder de um grupo de “drugues”- expressão adotada diversas vezes no filme – que tem por diversão sair à noite para roubar, espancar mendigos, invadir casas e estuprar mulheres, demonstra grande desprezo por esta sociedade, e parece não sentir culpa alguma pelos atos que comete. Neste sentido, é possível estabelecer uma relação com o jovem Raskólnikov, do romance Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski), que comete assassinato apoiado por uma teoria, que serve de refúgio e até de justificativa para os seus crimes. Tanto Raskólnikov quanto Alex DeLarge sentem um profundo desprezo pelas pessoas, e perambulam pela cidade indiferentes a ela, como se fossem seres invisíveis e inalcançáveis. Alex DeLarge vive num mundo que é só seu, como que de fantasia, é detentor de uma inteligência notável e lidera seu grupo com um tipo de persuasão violenta. Até que numa armadilha feita pelos parceiros, ele não consegue escapar da cena de um crime e é preso, condenado a uma pena de catorze anos.

Depois de dois anos de pena cumprida, ele é escolhido para o teste de um novo tipo de tratamento, que visa diminuir a criminalidade no país e reduzir o número de presos nas cadeias. O tratamento, entretanto, é composto de métodos um tanto originais, que levam o “paciente” a ser obrigado (amarrado numa cadeira, com camisa de força, fios ligados na cabeça e um instrumento com grampos que fazem os olhos ficarem sempre abertos, por mais fortes que sejam as cenas) a ver vídeos chocantes, sempre marcados por uma violência cruel, semelhantes às ações que ele próprio cometia em liberdade. Trata-se, portanto de uma técnica desumana, que traz enorme desconforto físico, vale frisar, e não uma real consciência de que tais