REPRESENTAÇÃO SOBRE O TEMPO NA IDADE MÉDIA
A representação do tempo por um agente histórico – seja ele individual ou coletivo é considerado pelo estudioso de uma sociedade, um tema da maior relevância. Pois, conceber o tempo não é um fenômeno cultural de limites precisos, de alcance facilmente mensurável, tampouco um bem simbólico puro ou monolítico: revestido com a tinta invisível dos aspectos culturais que animam a vida cotidiana, o tempo se esconde numa série de domínios da existência humana onde não se manifesta explicitamente. A imagem do tempo não se encontra apenas nos relógios e calendários, mas infiltra-se nas leis e organizações políticas, nos códigos éticos e morais, nas formas de sociabilidade, nos sistemas filosóficos e religiosos, nos tratamentos dispensados ao corpo e ao espaço e até nos empregos da violência. “São estas maneiras de “fazer a história” que marcam ou selam o tempo”. Uma temporalidade é um dispositivo essencial da relação do homem com o mundo que o rodeia, permitindo-lhe dotar-se de uma identidade e orientar suas ações. A obra de Jacques Le Goff. Um artigo publicado pelo medievalista francês em 1960, intitulado Na Idade Média: tempo da igreja e tempo do mercador, tornou-se um dos mais célebres trabalhos sobre este campo de investigação, especialmente pelo pioneirismo de sua abordagem histórica dos significados temporais expressados pelo clero medieval (séculos XI-XIV). Le Goff demonstra que, durante este período, duas concepções de tempo digladiavam-se: de um lado, o tempo concebido por teólogos e filósofos cristãos, e, do outro, o tempo prático manipulado pelos mercadores.
Segundo as opiniões do autor, a percepção do devir temporal por parte dos clérigos medievais consistia em revesti-lo de 5 qualificações espirituais, tornando-o a sucessão linear desencadeada no ato da Criação que, tendo a