Religião e cura
“Religião e Cura: algumas reflexões sobre a experiência religiosa das classes populares urbanas” – Miriam Cristina Rabelo
Com o intuito de mostrar a importância dos cultos religiosos enquanto agências terapêuticas entre as classes populares urbanas que tem sido amplamente reconhecida, o trabalho visa levantar algumas questões acerca da experiência religiosa de habitantes de um bairro pobre de Salvador, o Nordeste de Amaralina, enquanto experiência que é, em grande medida, construída em termos de busca de solução para problemas de doença e aflição. Com isso, o autor buscou contribuir para o entendimento das formas pelas quais as visões de mundo e projetos de cura de diferentes cultos são de fato incorporados à experiência cotidiana de doentes e seus familiares.
Para a realização desse trabalho foi feito análise do caso de doença de uma jovem chamada Adelice, conhecida no bairro como “Mexe-Mexe”, que sofre de problemas mentais desde a adolescência, diagnosticados como foco em um dos hospitais onde se tratou. Sua mãe, Benedita, tem recorrido a uma série de serviços terapêuticos, incluindo diferentes cultos religiosos, em busca de uma solução para sua doença. Embora tratar-se de um caso de doença mental, a história de Adelice é bem ilustrativa de uma trajetória que liga membros das classes populares a cultos religiosos, por isso, foi usada para compreender como interagem, em contextos concretos, símbolos religiosos e práticas sociais.
Para resolver o problema de Adelice, Benedita recorreu a serviços psiquiátricos, a oito casas de candomblé, a uma igreja pentecostal e a um centro espírita. As terapias religiosas não implicaram abandono de tratamento com os médicos: segundo Benedita todos os especialistas religiosos que consultou concordaram, quanto à necessidade de tratamento paralelo com médicos. De fato, pacientes e líderes religiosos populares negociam continuamente com o poder da medicina moderna de modo a garantir para si um espaço próprio de