quarto de despejo

3306 palavras 14 páginas
I

"Morreu como sempre viveu: pobre."

Termina assim, conforme noticiaram os jornais da época, o pequeno discurso de improviso feito por um orador anônimo aos pés do leito derradeiro de Carolina Maria de Jesus.

Apesar da frase de efeito do simpatizante de Carolina, ela nem sempre viveu na pobreza. Ao menos, não viveu sempre na mesma pobreza que o seu livro Quarto de Despejo[2] retrata.

O fato de ter transformado sua experiência de favelada num diário-reportagem tirou-a da favela do Canindé, onde viveu mais de nove anos, e a fez conhecer, ainda que por brevíssímo tempo, a glória, a fama, "o mundo e os fúteis ouropéis mais belos". Mas, ao contrário do ser místico que no soneto de Cruz e Souza triunfa supremamente sobre os vícios, as lutas, e as ilusões terrenas, Carolina jamais conviveu tranqüilamente com as lembranças do sucesso efêmero.

A se dar crédito aos jornais e às poucas entrevistas que se fizeram com ela no retiro do pequeno sítio de Parelheiros, morreu triste, abandonada e incompreendida. Ao que parece, sem compreender que os mecanismos sociais que promoveram o seu destaque laboraram também o seu esquecimento.

II

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, no ano de 1914, provavelmente. Mudou-se com a mãe viúva e os irmãos para uma fazenda, quando cursava o segundo ano primário. Estes dois anos mal cumpridos constituirão toda a sua escolaridade. De volta a Sacramento, e com a morte da mãe, vem para São Paulo em 1937.

Trabalha como empregada doméstica em diversas casas até que, grávida de seu primeiro filho, já não a aceitam para esse tipo de serviço. Muda-se para a favela e tem mais dois filhos. Três ao todo, dois meninos e uma menina, cada um de um pai diferente.

Carolina não se casou. Tampouco teve um companheiro fixo. Não por falta de propostas. Muito menos de amores.

Em 1958 aparece a primeira reportagem sobre seu diário no jornal Folha da Noite. No ano seguinte, é a vez da revista O Cruzeiro de divulgar o

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