Psicomotricidade
Faculdade de Educação da USP
“(...) Já podaram seus momentos, desviaram seu destino, seu sorriso de menino tantas vezes se escondeu, mas renova-se a esperança, nova aurora a cada dia, e há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto...” (Milton Nascimento)
1) Introdução
A formação de professores tem sido freqüentemente considerada a partir de critérios técnicos reducionistas que, a priori, visam estabelecer um perfil desejável de profissional em um quadro de atribuições práticas genericamente delineadas. Na perspectiva do ideal, a realidade do fracasso do ensino parece irrelevante como se, de fato, o ser humano fosse incapaz de aprender com os seus erros. Sustentando os princípios de que a maior parte dos problemas de aprendizagem são problemas de ensino e de parâmetros estreitos do projeto educativo, o presente artigo visa tomar a problemática do insucesso escolar como um feed back relevante para a compreensão dos complexos meandros da aprendizagem e suas implicações para a formação de professores. Para tanto, vale-se de um estudo de caso em escola particular cuja especificidade põe em evidência quatro dimensões típicas do ensino em larga escala, mas, lamentavelmente, pouco evidentes na prática escolar.
2) O caso de Rui
Esta é a história de Rui, aluno de uma escola particular em São Paulo.
Até os seis anos, ele se desenvolvia normalmente, aprendia com facilidade e tinha bom relacionamento com os colegas e professores de sua escola.
O drama da sua inadaptação começa quando a família do garoto mudou-se para a Itália. Em 3 anos de vida no exterior, Rui passou por 3 escolas em diferentes regiões do país. A previsível dificuldade lingüística (aprender o italiano e alfabetizar-se nessa língua) foi mais facilmente resolvida do que a adaptação às exigências institucionais que, pelo viés cultural, eram incompreensíveis ao menino: severo controle comportamental, sistema de punição escolar