Posconceituosos

Os posconceituosos

Eles estão entre nós. São eruditos, convictos, seguros. Ocupam posições sociais de destaque e transpiram certezas. Podem ser facilmente confundidos com seus antípodas pobres, os preconceituosos. Só que o preconceito, quase sempre, nasce da ignorância. Já o posconceito é filho do saber. Um preconceituoso julga antes de conhecer. Um posconceituoso, não. Ele leu, debateu, refletiu. E formou uma convicção. Construiu uma resposta. E se agarra a ela para sempre. Pouco importa se a pergunta mudou. E as perguntas mudam. E mudam sempre. E rapidamente. É a história do soldado japonês perdido numa ilha do Pacífico. A guerra acabou. Mas não adianta avisá-lo. O combate é uma resposta sólida, inquebrável, única. Há célebres posconceituosos que passaram a vida estudando. Estudando religiões, por exemplo. Podem ser judeus, muçulmanos ou cristãos. Se autointitulam homens de fé. Ostentam galardões e trajes. Conhecem todos os rituais. Mas, no fundo, não entendem que a fé serve para construir pontes e não para destruí-las. Ficam por aí repetindo antigas bobagens pseudo-históricas, respostas mofadas a perguntas que já mudaram séculos atrás. E, assim, explodem justamente aquilo que mais deveriam cuidar. No fim do dia, deitam suas santas cabeças nos travesseiros brancos e rezam por um Deus ao qual se julgam fiéis. Não fazem mais perguntas. E, por isso, não ouvem as respostas.

Texto publicado no Jornal Zero Hora, em 26/01/2013. Coluna assinada por André Martins

Os posconceituosos

Eles estão entre nós. São eruditos, convictos, seguros. Ocupam posições sociais de destaque e transpiram certezas. Podem ser facilmente confundidos com seus antípodas pobres, os preconceituosos. Só que o preconceito, quase sempre, nasce da ignorância. Já o posconceito é filho do saber. Um preconceituoso julga antes de conhecer. Um posconceituoso, não. Ele leu, debateu, refletiu. E formou uma convicção. Construiu uma resposta. E se agarra a ela para