politica agora

A relação entre pensamento e ação é um problema filosófico clássico – e ainda válido. Maquiavel, n’O Príncipe, o coloca numa fórmula célebre: “sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por isso se interesse, pareceu-me mais conveniente buscar a verdade extraída dos fatos e não a imaginação dos [que escreveram sobre a política], pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou conhecidos como se tivessem realmente existido. Em verdade, há tanta diferença de como se vive e como se deveria viver, que aquele que abandone o que se faz por aquilo que se deveria fazer, aprenderá antes o caminho de sua ruína do que o de sua preservação, pois um homem que queira em todas as suas palavras fazer profissão de bondade há de se perder em meio a tantos que não são bons”.

Ou seja: a teoria, o ideal, nos induzem em erro. Quem fala de um Estado perfeito não tem condições de lidar com os poderes como existem, com os homens como são. Quem quer ser bom há de se destruir, rodeado que está de gente má. Daí que seja necessário conhecer a verdade “extraída dos fatos”, uma expressão notável, porque remete à experiência – política e história – como critério de verdade, no lugar da moral cristã. É claro que, para isso, Maquiavel tem de romper com a idéia (profundamente cristã, pelo menos naquela época) de um continuum entre esta vida e a outra. Um crítico dele poderia dizer: Maquiavel, coitado, fala só deste mundo, que é aparência e vaidade. A verdade vai estar na eternidade, da qual nosso mundo é apenas uma antecâmara. Por isso mesmo, para Maquiavel dizer o que diz, ele tem de cortar esse vínculo: há, apenas, este mundo. Mas vemos que para Maquiavel as idéias levam ao erro e à catástrofe quem as tem, quem as formula.

Com o fundador do materialismo histórico (Marx), a questão é diferente. Ele dá novo sentido a uma palavra, “ideologia”, que no meio século anterior a A ideologia alemã significara simplesmente a “ciência que estuda como se geram as idéias”. Marx