Poemas de Cecília Meireles

1686 palavras 7 páginas
Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

( Cecília Meireles )
(Obra poética, Volume 4, Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira. Companhia J. Aguilar Editora, 1958, p. 10)

Elegia a uma pequena borboleta (com vídeo na voz da poeta)
Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.

Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

( Cecília Meireles )

Cecília-Meireles

Camisetas Amo Poesia
*

Timidez

Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.

( Cecília Meireles )

*

Primeiro Motivo da Rosa

Vejo-te em seda e nácar, e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera, toda a Beleza em lágrimas por ser bela e ser frágil.

Meus olhos te ofereço: espelho para face que terás, no meu verso, quando, depois que passes, jamais ninguém te esqueça.

Então, de seda e nácar, toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero o rosto meu, nas lágrimas do teu orvalho… E frágil.

(

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