Poema da amiga

427 palavras 2 páginas
Poema da amiga

A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.
Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade
O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
(Mário de Andrade)

RESENHA

Este poema retrata o fim que é inerente ao ser humano. O autor usa várias figuras de linguagem para externar sua preocupação com o que será feito de seu corpo após a morte.
No entanto, percebe-se que sua preocupação não é com a parte física, mas sim abstrata de seu corpo, uma vez que as partes citadas no poema representam algumas emoções ou mesmo alguns hábitos do poeta.
Por exemplo, ele pede pra deixarem seu coração no pátio do Colégio. Isso quer dizer que ele sente um apreço muito especial por tal lugar. O seu ouvido deve ser colocado no correio ou nos telégrafos, pois quer saber da vida alheia. Isso mostra que ele tem o hábito de ouvir fofocas, aliás, quem não tem?
Seu nariz deve ficar nos rosais, pois ele quer que o cheiro das flores continue sendo sentido, mesmo após sua ida para o além. A língua no alto do Ipiranga, para cantar a liberdade. Aqui ele mostra o seu

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