Pitty
Entrei e o tiozinho começou a puxar conversa. “E essa chuva?” “Tá indo pra casa?” “Você trabalha ali?”
Eu respondendo, mas na retranca. Comecei a mentir.
- Como é seu nome?
- Consuelo.
- Trabalha com o quê, Consuelo?
- Ah, sou costureira.
- Mas você não é daqui não, né? Esse sotaque… é de onde?
- Bahia. O senhor também tem sotaque, é Nordeste também?
- É, Pernambuco. Mas tô aqui faz tempo já, acham até que perdi o sotaque. Tem um monte de nordestino por aqui, o que menos tem em São Paulo é paulista. E ainda têm preconceito com a gente, viu? Volta e meia escuto uns desaforos.
- Ah, mas nessas horas eu nem dou atenção…
- Pois é, outro dia mesmo eu tava conversando com um desses e falei assim “se preocupe não que daqui a um tempo 95% da população vai ser de paulista”. Né não? A gente vai tendo filho, tendo filho… e eles nascem aonde? Aqui, né? Tudo paulista, mas tudo filho de nordestino!
- Verdade, não tinha pensado nisso…
Aí fomos nessa conversa até que cheguei ao meu destino. Paguei, estava saindo. Ele:
- Tá bom Consuelo, obrigado, viu? Quando tiver por ali passa lá no ponto e me procura pra gente tomar um café junto, bater um papo, se conhecer melhor.
???????????
Aí fiquei sem saber se:
1- o tiozinho tava me paquerando
2- o tiozinho me reconheceu e tava tirando um sarro
3- o tiozinho é só gente fina mesmo e gosta de conversar com as pessoas.
Que mundo