Perversão

A perversão

FLÁVIO CARVALHO FERRAZ

(1) No artigo posterior A dissolução do complexo de Édipo, Freud (1924b) mostrou como o menino reluta em aceitar a ameaça de castração. A experiência da visão dos órgãos genitais femininos é, então, a prova definitiva da realidade da castração, evidenciando uma verdade terrorífica que ele insistia em recusar. Portanto, a renúncia ao objeto edípico não se dá facilmente: trata-se de processo sujeito a marchas e contramarchas que terá fim apenas com uma ameaça suficientemente forte. Grosso modo, a relação incestuosa mãe/filho deverá sucumbir a um recalcamento de tal maneira eficaz que merece o nome de dissolução do Complexo de Édipo. No entanto uma saída possível para esse impasse é exatamente uma defesa psíquica diferente do recalque que vem a ser a recusa à perversão. Uma outra saída – contrária a esta – na formação da estrutura perversa nada mais é um meio de recusar a realidade da castração. Portanto, a recusa da castração é um mecanismo que concorre com o recalque. A estruturação da personalidade de todos os seres humanos dependerá do predomínio modelo da recusa da perversão (neurose) ou do modelo da recusa da castração (perversão).

(2) Myrta Casas de Pereda (1996) discorre sobre esse problema do status da recusa. Quando a recusa atinge o status de recusa da perversão ela tem um efeito estrutural. Quando a recusa assume o status de recusa da castração ela tem um efeito patogênico. Na recusa da perversão a criança apreende a realidade através da ausência do pênis materno (castração). Esta realidade dá seus primeiros sinais quando Freud (1908b), no artigo Sobre as teorias sexuais infantis, já falava da fantasia da universalidade do pênis como tentativa que a criança faz de elaborar a excitação proveniente do enigma da sexualidade: existem seres que não têm o pênis? Já se encontra, aí, a base da recusa da castração.

(3) Na recusa patológica da perversão, Pereda define-a como a “persistência da recusa da ausência”