Personagens - O Auto da Barca do Inferno

Fidalgo
O que ou quem é: Fidalgo, D. Anrique.
Resumo de sua participação: No embarque do Fidalgo, já fica evidenciado que, mesmo sendo um auto de moralidade, areligião é um pretexto para a realização da sátira profana. O que Gil Vicente aqui critica é a ideia da soberba. Do verso 1 ao 22, o Diabo, uma das figuras vicentinas mais interessantes, prepara a Barca do Inferno com seu companheiro, e o primeiro que se aproxima é o Fidalgo Dom Anrique. A seguir, se estabelece o diálogo entre o representante da nobreza e o Diabo (v. 23 a 66), cabendo a este um tom de zombaria. Observe-se que Dom Anrique vem, fisicamente, caracterizado como nobre. A cadeira de espaldar e a cauda longa não são senão sinais terrenos de nobreza. Por outro lado, os valores da aristocracia são colocados a partir do verso 40, quando o Fidalgo se vê merecedor do Paraíso por haver, na Terra, quem por ele ore. Também o Anjo vicentino é singular. Quando o Fidalgo chega à barca do Paraíso, por mais que o chame, o Anjo responde apenas com silêncio. Além disso, também ele é marcado pela ironia. É do Anjo que vem a síntese da cena: a tirania, o desprezo ao povo queixoso, o que, enfim, caracteriza a nobreza da época. Saliente-se, ainda (v.112 a 119), o surgimento de uma espécie de consciência tardia no Fidalgo, entretanto, não há, como não há nos textos vicentinos, conflito psicológico. A cena fecha com um Domínio total do Diabo, pela da ironia, quando o Fidalgo quer tornar a ver sua dama.
O que leva: um manto e pajem (criado) que transporta uma cadeira de espaldas. Estes elementos simbolizam a opressão dos mais fortes, a tirania e a presunção do moço.
Onzeneiro
O que ou quem é: homem que vivia de emprestar dinheiro a juros muito elevados, um agiota.
Resumo de sua participação: Gil Vicente não critica apenas a nobreza e o clero, mas também aquela parte do povo que vive da exploração do próprio povo. Um exemplo do que se afirma é o embarque do Onzeneiro, hoje conhecido como agiota. Com esta