Paul O O Hippie

Paulão, o hippie

Cheguei em casa bêbado, como de costume. Esbarrei no muro, na vizinha, que deu um berro e socou-me a fuça. Subi torto as escadas e finalmente cheguei ao apartamento.
— João, seu filho da puta! Aqui pra você desgraçado. — mijo.
— Porra, Paulo! Mijando aqui de novo, vagabundo?! Se eu te pego te arrebento, hein. Vai vender essas merdas que tu chama de arte, desgraçado. — o vizinho do 306 berra de dentro do apartamento, e a pesados passos caminha até a porta. — Eu te arrebento, te arrebento! João era o senhor de uns 50 anos que morava no mesmo corredor que o meu. Largado pela mulher por “ser um coxinha”, ele veio morar em Jaraguá, a cidade mais coxinha do estado, ainda ano passado.

— Vai tomar no cu, João! IIIHAAA — termino de mijar, ele abre a porta, chacoalho o pênis e respingo mijo em seu pé.
— Ah, filho da puta. — soco!
— Não precisa disso, não João.
— Não precisa disso? — Soca. — Você vem todo dia bêbado pra cá, mija na minha porta, deixa essa fedentina do caralho e não precisa disso? — Murro. Sangue. Tombo.

Acordei com uma puta dor de cabeça. Dor de queixo, estômago, dor em tudo. Vesti uma calça velha e joguei um casaco por cima das costas. Fazia frio, e o frio que fazia tornava difícil coordenar os dedos da mão. Lavei meu rosto com as mãos duras e já sem muito tato, e a água gelada da torneira fez minhas bochechas avermelharem ainda mais. Pus água pra ferver e aqueci minhas mãos no fogão, e enquanto as chamas vacilavam debaixo da chaleira, me veio à cabeça que não havia nem mortadela nem margarina, essenciais num café da manhã que se preze.

— E pão, Paulo? Não vai levar?
— Pão tem, de ontem ainda.
— Ah, claro. Aqueles que você pendurou também, né?
— Até tu me enchendo, Carlos? Tu sabe que eu te pago. Alguma vez deixei de te pagar?
— Sim! Teve o vinho da sexta feira santa que não vi nem a cor do dinheiro ainda.
— Porra, bicho. Vai se apegar a isso? Frequento esse teu botequim há três anos, velho…
— Botequim é a mãe, seu mal agradecido.