Passagem ao ato
Na clínica psicanalítica atual, temo-nos deparado com significativa incidência das chamadas “novas patologias”. A freqüência do encontro clínico com estes estados limites vem fomentando reflexões sobre os limites de nossa prática e de nossos referenciais teóricos, assim como sobre certas situações-limite presentes na cultura ocidental contemporânea, e obrigando a repensar e recriar a teoria psicanalítica e sua clínica.
É notável a forma com que as “novas” manifestações psicopatológicas podem ser observadas entre os adolescentes da atualidade, que expressam seu sofrimento privilegiadamente por meio do registro do ato, da convocação do corpo, o que supõe precariedade dos mecanismos de simbolização. Estes sujeitos, de maneira insistente e preocupante, recorrem às passagens ao ato – modo peculiar de defesa que envolve, dentre outros aspectos, exatamente um curto-circuito do trabalho de elaboração psíquica e a convocação do registro corporal. Foi a maciça recorrência dos adolescentes dos dias de hoje a esta forma rudimentar de resposta que instigou a elaboração do presente trabalho.
Cremos ser significativa a nossa temática devido não apenas à alarmante difusão do apelo às passagens ao ato entre os adolescentes das sociedades ocidentais contemporâneas mas, fundamentalmente, ao fato de tratar-se de uma problemática que envolve em sua base uma dimensão de violência psíquica. Esta violência, de caráter interno, é expressa por meio de comportamentos violentos voltados para si próprio e também contra o outro. Pode-se observar que não estamos voltados para uma adolescência atemporal, e sim para a adolescência que habita o contexto cultural e familiar da atualidade, uma vez que é entre os adolescentes inseridos neste contexto que a problemática das atuações dramáticas vem ganhando largo espaço. Isto significa que na investigação