Oralidade - A linguaguem oral e o ciberespaço

A primeira palavra irrompeu como um relâmpago dos lábios do primeiro homem. Mal acabara de articular um breve conjunto de sons, quando a imagem de um objeto lhe surgiu nítida e viva, como se o tivesse diante dos olhos.
Deslumbrado, experimentou repetir a mesma série de sons e eis que de novo o mesmo objeto vem até ele e fica ao alcance da sua mão. Invade-o uma alegria imensa... Experimentando então repetir, por meio de sons articulados, o canto das aves, surgiram perante os seus olhos o pássaro evolucionando no céu e a pomba arrolhadora empoleirada no ramo. Quis reproduzir com a voz a sensação de rapidez da lebre que fugia ou a lentidão pesada do urso das cavernas. E a sequência de sons, ora aguda, ora profunda, evocou a lebre e o urso.
Lembrando-se do grito com que chamava a companheira quando estava viva junto dele, repete-o com a angústia de quem espera; atenta ao chamamento, a mulher está ali, como que ressuscitada na atitude que lhe era mais querida. Possuidor da palavra, o homem tornou-se senhor do mundo da natureza e do mundo dos espíritos.
PAGLIARO, Antonio. A vida do sinal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1952.

Em tom poético, Pagliaro celebra a palavra. Essa que é a mais genial das invenções do ser humano. Essa que é o nosso traço distintivo.
A invenção da palavra marca o primeiro estágio da cultura humana – a oralidade – dependente da presença física, da voz, de gestos e olhares. Na forma oral, cada som da língua é percebido linearmente, um após o outro, no ato de tecer o discurso. Desse fluxo de sons emerge o ritmo, o elemento mais antigo da língua, anterior à própria fala.
Durante séculos, a linguagem oral dependeu da presença de quem a produzia. Foi somente em 1878, com a invenção do fonógrafo, que se tornou possível a gravação mecânica e a conservação do som, da palavra, do ritmo. Depois vieram as gravações magnéticas e a laser, de melhor qualidade que as mecânicas.
Na segunda metade do século XX, uma nova linguagem promoveria uma