Não tenho
Uma sala de casarão sertanejo. Portas para quartos e corredor. Uma grande mala ou um guarda-roupa. Estão em cena CANCÃO, GASPAR- que é gago – e o juiz NUNES.
NUNES- Mas afinal de contas, por que é que eu fui chamado?
CANCÃO- Porque a moça quer casar com Geraldo assim que chegar. A mãe disse que não transige nessas questões de moral e que se a filha ficar aqui com o noivo sem casar podem falar dela.
NUNES-Esse casamento é impossível, não se publicaram os proclamas.
CANCÃO-E se Geraldo abrir o inventário do pai dele? O senhor se lembre que esse inventário é o mais rico, o mais cheio de custas que já apareceu por aqui. Se ele abrir o inventário o senhor dá um jeito para o casamento não ser hoje?
NUNES- Se esse inventário se abrir, Cancão, eu faço o que Geraldo quiser. Mas você não disse que a moça quer casar hoje? GASPAR-Disse.
CANCÃO- Mas Geraldo não quer não, quem quer é a moça. É claro que ele não pode dizer isso abertamente, seria uma indelicadeza com a noiva. Mas se o senhor lhe desse o pretexto para não casar hoje, ele ficaria muito grato e abriria o inventário.
NUNES- E qual é o desejo de Dona Guida?
CANCÃO- É o mesmo de Geraldo, adiar o casamento. É por isso que Geraldo não quer se casar hoje, está com medo de dar um desgosto à mãe.
NUNES- Mas será que não vou me complicar? Depois de casada, essa moça vai manobrar Geraldo e quem sai perdendo sou eu, que atrapalhei o casamento dela no começo.
CANCÃO- Faz-se tudo disfarçado. Eu convenço Geraldo e Dona Guida a requererem o inventário e o senhor sai da cidade para avaliar a propriedade que o pai dele deixou. Isso tem duas vantagens: aumenta as custas e o casamento tem de ser adiado porque o juiz está fora.
NUNES- É uma boa ideia, mas eu estou desconfiado. Qual é o seu interesse nisso tudo?
CANCÃO- Doutor Nunes, eu sou amigo de Geraldo!
NUNES- Não diga! Você pensa que eu sou