Nas linhas e entrelinhas

Nas linhas e entrelinhas
Por Regina Luz

Noel Rosa disse um dia que samba não se aprende na escola. E ler, aprende-se? Qual seria o método para levar o aluno - leitor a gostar de ler? Ele existe? Cabe, antes de levantar essas reflexões, um mergulho nas diversas possibilidades de leitura do próprio ato de ler. Mário Quintana afirma em um de seus textos que “os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto ,alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...” De acordo com o poeta,o alimento do texto está no leitor. A leitura se dá a partir da construção dos vários sentidos atribuídos por ele - sujeito agente transformador do texto e dele mesmo. Mas o texto está lá , com suas marcas, seu contexto e sua história. Desvendar esse texto em seus mistérios e suas nuances mais peculiares é viver de tal forma uma experiência simbólica com o objeto , que leitor e obra interagem intimamente. É como viver com a personagem do filme A Rosa Púrpura do Cairo a paixão avassaladora ,fruto da viagem através da obra de arte. A cada dia, a vivência com o texto vem trilhando novos caminhos e fica mais evidente que o ato de ler se dá entre o leitor virtual (autor) e o real que se apropria do objeto lido (Orlandi). Pensando e repensando as diversas linguagens, o expectador vai - se embrenhando nesse processo constante de identificação com a transfiguração da realidade. Dessa forma ,confirma-se ainda mais a idéia de que “ler se aprende lendo.” E é imprescindível que se leia na escola.E também fora dela.O importante é,nesse processo,cruzar as leituras,criar pontes, partilhar com o outro seu olhar, já que toda palavra é dialógica por natureza e pressupõe sempre o outro. É compreender a linguagem em suas mais diversas complexidades,