Narrativa “O crime do Tapuio”: identidades amazônicas e contextos sociais
*Nayanne Braga do Nascimento
*Acadêmica do Curso de Letras/ Portugês da Universidade Federal do Acre – UFAC
O presente trabalho baseia-se na ementa sobre a “evolução da narrativa brasileira, seus projetos estéticos e ideológicos” apresentada na disciplina Poética II ministrada pela professora Simone Souza Lima na Universidade Federal do Acre, tendo como base de estudo a narrativa “O crime do Tapuio” de José Veríssimo (1886). Segundo Paul Ricoeur (RICOEUR apud COMPAGNON, 2003; Pág 131), a narrativa é a maneira de viver no mundo, pois representa o conhecimento prático do mesmo envolvendo um trabalho de construção de um mundo inteligível. A construção da intriga é o produto do conhecimento humano, conhecimento este relacionado ao tempo, haja vista a narrativa “dá forma à sucessão informe e silenciosa dos acontecimentos” (COMPAGNON, 2003; pág 131), estabelecendo relações entre os inícios e os fins. Dessa forma, Compagnon (2003) aborda o conceito aristotélico de que poética é a arte de compor intrigas, sendo estas a representação da ação.
A narrativa “O crime do Tapuio” de José Veríssimo é uma intriga que possui um vínculo interno lógico, porém não-cronológico tendo em vista que as cenas não são narradas de forma linear, pois após a fuga da criança, dar-se início ao julgamento de José Tapuio levando ao leitor a compreensão de que de fato o índio teria realizado o crime.
A narrativa tem início quando a criança aos sete anos de idade é doada pelos pais ao padrinho, Felipe Arauacu, que a pede com a intenção de dar-lhe de presente a sogra:
“Mal completara Benedita os sete anos, quando os pais, uns pobres caboclos do Trombetas, deram-na ao Felipe Arauacu, seu padrinho de batismo, que a pedira e fizera dela presente à sogra.
– Aqui ‘stá – disse-lhe – que eu lhe trouxe p’ra dar fogo p’ra seu cachimbo” (VERÍSSIMO, 1886)
Desde que Benedita é doada à velha Berthana inicia-se uma vida de