na morada das palavras
Rubem Alves
Contracapa
"Meu filho Sérgio tinha três anos quando viu o mar pela primeira vez. Em silêncio, ficou a contemplar o mar, as ondas se quebrando sem cessar. E me perguntou: 'O que é que o mar faz quando a gente vai dormir?'. Era-lhe incompreensível a eternidade do mar. Também me espanto e me pergunto, sem resposta: 'Há quanto tempo o mar se quebra alisando a areia.?'. O mar, a praia, as conchas, o céu, os peixes invisíveis nas profundezas, as gaivotas em vôo me falam da eternidade. Senti-me retornado ao início do mundo (...)."
Da crônica "Por que não me mudo pra Bahia"
"Era isso que o guru fazia. Os rostos transformados das pessoas que saíam de sua casa eram rostos de pessoas que, pela primeira vez na vida, tinham contemplado a beleza que morava no seu sofrimento. O guru era uma fonte de Narciso onde a beleza das pessoas, escondida sob os acidentes da vida, aparecia de forma luminosa. E elas saíam transformadas. Não porque tivessem sido curadas do seu sofrimento. Mas porque o seu sofrimento se transformara em beleza. Todas as pessoas que se vêem belas ficam melhores."
Da crônica "O rei, o guru e o burro"
Ilustração: Paulo Branco
Orelha
"Foi longo o itinerário que segui.
Minha infância foi uma infância feliz.
Vivi anos de pobreza, morando numa casa de pau-a-pique, fogão de lenha, noites iluminadas pela luz das lamparinas e das estrelas, minha mãe trazendo água da mina numa lata, meu pai trabalhando com a enxada e o machado. Mas não tenho desses anos nenhuma memória triste. As crianças ficam felizes com pouca coisa. (...) O sagrado aparecia, sem nome, no capim, nos pássaros, nos riachos, na chuva, nas árvores, nas nuvens, nos animais. Isso me dava alegria!"
Da crônica "A beleza dos pássaros em vôo..."
NA MORADA DAS PALAVRAS
SICILIANO
Outros títulos do autor
Alegria de ensinar
Amor que acende a lua
Cenas da vida
Concerto para corpo e alma
Conversas com quem gosta de ensinar