Motociclistas

Quando subo em minha moto, me sinto mais forte, o universo todo conspira em torno de mim nesse momento, lembro-me daqueles amigos já que perdi, e daqueles que estão essas horas preocupados comigo, lembro-me dos momentos que já passei com meus companheiros, aquele encontro lotado, aquela descida de gelar a barriga, aquela curva que você começa a rir e tenta fazer cada vez mais veloz, essa mesma alegria que você nunca sentirá na segurança dentro de seu carro! Em um vago momento eu penso como seria se eu tivesse de abandonar essa paixão um dia, se por um motivo maior eu me sentiria obrigado a fazer isso, ou se minha família viesse dizer-me que isso é muito perigoso. Acho que neste momento faltariam argumentos e palavras na boca, pois nunca pensei em abandonar aquilo que sempre quis, aquele sonho de criança, realidade do jovem e adulto, e lembrança dos velhos, paixão que passa de pai para filho, e que me enche o rosto com um sorriso a cada vez que subo em minha moto. Nesse nosso mundo a alegria começa após a partida e só termina com a chave no OFF.
Logo ao liga-la o coração pulsa mais rápido, trocando os batimentos por RPM’S, homem e máquina trabalham em perfeita sinfonia nesse momento, perco a noção de tudo e acabo esquecendo-me que comparado ao bruto asfalto, sou frágil demais. Acelero sem pensar, vejo que os ponteiros correm com pressa, e a faixa pontilhada amarela da estrada, se torna uma faixa contínua. Meus olhos começam a ficar vermelhos, e o vento não me perdoa, a todo o momento tenta me derrubar. Aproximo-me rapidamente de um carro, seguro a velocidade e percebo que nele, há uma criança me abanando, eu nunca soube dizer o que eles devem de pensar naquele momento, mas rapidamente aceno a ele também. Ultrapasso o carro, e paro em seguida no acostamento, mais a frente percebo que o motorista do carro para também, ele me cumprimenta e logo pergunta:
- Porque essas crianças costumam cumprimentar você e seus amigos sem nunca ter o visto?
E eu respondo ao pai: -