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2257 palavras 10 páginas
Fernando Pessoa

TEORIA DA HETERONÍMIA

edição

Fernando Cabral Martins
Richard Zenith

A S S Í R I O & A LV I M

A ideia de heteronímia
A questão da heteronímia é a mais importante de todas as que a arte de Pessoa põe em jogo, aquela que sobredetermina tudo o que escreve, em todas as circunstâncias e a todos os títulos, e isso desde o começo do seu interesse pela literatura — como detalhadamente o expõe a «Tábua» aqui publicada. De resto, é significativo que a carta a Adolfo Casais Monteiro, em 13-1-1935, testemunho final deixado por Pessoa aos seus leitores futuros, trate de pouco mais, em toda a sua extensão, que de uma apresentação do processo heteronímico, com os retratos e as singularidades dos heterónimos.
A obra de Pessoa é um diálogo múltiplo entre textos assinados por diferentes nomes de autores. Muitos deles são interpretações e anotações que contribuem para a discussão de poemas e se tornam complementares da sua leitura, passando a integrar, de modo mais ou menos direto, a poesia que tematizam. Um exemplo disso são os prefácios escritos por Ricardo Reis ou Thomas Crosse para a obra de Alberto Caeiro. Do mesmo modo, as Notas para a Recordação do meu Mestre Caeiro, de Álvaro de Campos, são apresentadas por Pessoa como devendo fazer parte das edições projetadas da poesia do Mestre. Os poemas de Alberto Caeiro situam-se numa constelação de outros textos, e desdobram-se, assim, no seu próprio comentário.
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A poesia de Pessoa parece necessitar da ideia de heteronímia para fazer sentido (embora esta não seja uma opinião unânime1).
Além de que as suas características de inacabamento, ambiguidade e fragmentaridade tornam essencial o vislumbre de síntese que o sistema dos heterónimos oferece.

O espaço interior
A abrir as Poesias do ortónimo, o primeiro livro da obra poética de Pessoa publicado pela Ática (Lisboa, 1942), lê-se uma
«Nota Explicativa» assinada por João Gaspar Simões e Luís de
Montalvor. Aí, a justificação

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