MicrosoftWordA Epopeia Do Homem Em Ant Nio Gede O R Mulo De Caravalho

4082 palavras 17 páginas
A Epopeia do Homem em António Gedeão / Rómulo de Carvalho
Isabel Rio Novo∗
Ao mencionarmos no título desta comunicação a epopeia do Homem, para além de evocarmos a temática e a tonalidade épicas presentes na obra de António
Gedeão/Rómulo de Carvalho, pretendemos também situá-la em relação (reacção?) a um projecto poético nascido em França na segunda metade do século XIX, quando, estribada nos avanços realizados pelas ciências experimentais e alentada pelas correntes positivistas, a expressão da fé na ciência e do entusiasmo pelo progresso técnico conquistou as artes e a literatura.
Recuperando do Romantismo a ideia da função social da poesia, poetas e teorizadores que a história literária coloca hoje no âmbito do Realismo-Naturalismo consignam, então, à poesia a missão de cantar os progressos materiais e morais do seu tempo e de propalar a confiança na marcha ascensional da humanidade. Nascia dessa forma a ideia de uma epopeia da humanidade de temática científica e/ou filosófica, destinada a contribuir para a consecução do projecto de redenção social, tentada e/ou teorizada por autores como Maxime Du Camp, Sully Prudhomme, Jean-Marie Guyau,
Louis Desprez, Henri Fèvre, Eugène Véron ou Mme Ackermann, de certo modo ainda inspirados no modelo poético hugoliano de La Légende des Siècles e marcados pelo ideário de pensadores como Michelet, Hegel e Vico.
É por essa altura que o crítico literário Jules Lemaître anuncia com entusiasmo o advento da poesia da ciência, explicando que esta não consistirá em construir com o vocabulário científico perífrases poéticas engenhosas, como sucedia na poesia didáctica de Setecentos, mas que as próprias descobertas científicas oferecerão uma substância poética rica e impressionante. Em primeiro lugar, o domínio sobre as forças da natureza que as invenções técnicas e os conhecimentos científicos asseguram desperta no homem moderno sentimentos de euforia, de orgulho e de heroísmo que se extravasam naturalmente numa expressão lírica; em

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