Mia couto

O conto nas águas do tempo, de Mia Couto, conta a historia de um avô que leva seu neto todos os dias para um rio querendo que o seu neto veja o pano branco para o qual acena no outro lado da margem. Porém o neto não enxerga nada, e também não entende muito bem o que o seu avô quer mostrar para ele até que no terceiro dia de passeio, o neto sente vontade de descer à margem do rio e é sugado pelas águas, até que a imagem do pano branco aparece denovo, seu avô acena e o menino repete o gesto por obediência, sem ver absolutamente nada ainda. Após o seu avô explicar tudo eles retornam ao rio, e só assim o menino enxerga a visão, entende as lições que seu avô queria transmitir para ele e as transmite a seu filho. Este conto, que ao meu ver, é um diálogo apresentado com narrador em 1ª pessoa, onde o neto conta a história para o leitor. Na minha opinião o conto de Mia Couto é principalmente uma metáfora dizendo que a transmissão da cultura das pessoas mais velhas para as mais jovens, acabou se perdendo com o tempo. Tenta mostrar uma tentativa de "ajuda/resgate" dos valores culturais para as gerações mais novas, valores que devem ser repassados pelas gerações mais antigas. Essa perda de transmissão de conhecimento, pode ser exemplificada no trecho: “ Nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. O que acontece, meu filho, é que quase todos estão cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam.”
Já a tentativa de ajuda/resgate da transmissão ao passar dos anos é notada neste trecho: “ Eu levo-lhe lá nos pântanos para que você aprenda a ver. Não posso ser o ultimo a ser visitado pelos panos”.
O narrador então compreende os ensinamentos e reconhece aquela cultura, aqueles valores como seus. “(...) E eu acabava de descobrir em mim um rio que não haveria nunca de morrer.”