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MANDIOCA, PIMENTA, ALJÔFARES: TRÂNSITO CULTURAL NO
IMPÉRIO PORTUGUÊS – NATURALIA & MIRABILIA
Eduardo França Paiva
Universidade Federal de Minas Gerais, BRASIL
Introdução
Ao final do século XVIII, completavam-se algumas centenas de anos que portugueses e brasileiros vinham mantendo intenso comércio e dinâmico trânsito cultural entre quatro continentes: América, Europa, África e Ásia. Durante esse período, houve inúmeras experiências no sentido de adaptar, em toda a extensão do Império
Português, espécies vegetais e animais, costumes e cultura material de variada origem, o que, de certa forma, facilitava a construção de um ambiente semelhante em todas as áreas, simultaneamente múltiplo, diverso, mas portador de identidades singularizantes, talvez luso-brasileiro-tropicais. As trocas ocorreram rápida e fortemente e, em larga medida, com sucesso. Ao mesmo tempo, culturas se renovaram e se adaptaram, mas também se preservaram. Os responsáveis por esses processos – navegadores, exploradores, comerciantes, religiosos, autoridades, viajantes, naturalistas, índios, escravos africanos, contrabandistas, trabalhadores navais, entre outros – mediaram culturas por meio do tráfico da natureza e do maravilhoso, assim como, em alguns casos, ajudaram a montar verdadeiros laboratórios de adequação e de ajuste biológico e cultural. Enquanto tubérculos e leguminosas americanos invadiam terras africanas de costa a costa [vários tipos de amendoim e de mandioca, assim como técnicas de plantio, cultivo, extração e transformação e, ainda, instrumentos variados usados em todas essas etapas], malaguetas africanas, em caminho inverso, condimentavam alimentos na
América portuguesa, redes tecidas por nativos do Brasil transportavam gente em Lisboa, pérolas e corais saiam do Oriente e maravilhavam brancas, mestiças e negras nas Minas
Gerais, na Bahia, em Pernambuco e no Rio de Janeiro. Mercado, comércio e cultura eram, então, faces da mesma moeda, que circulava intensamente, mais do que se

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