Maias

Os Maias

Um romance sobre a decadência nacional

Os Maias não visam apenas a construção de uma realidade ficcional. Por trás de uma intriga habilmente inventada e do pano de fundo impressionantemente semelhante à realidade, está oculto um sentido ideológico preciso. Ao analisarmos as personagens de ambiente e o espaço social somos forçados, a cada passo, a recorrer a correspondentes situacionais do Portugal dos anos 70 do séc. XIX, para conferir um mais amplo sentido a pessoas e lugares. Desde logo percebemos que as relações entre o universo romanesco e a realidade sua contemporânea são algo mais do que simples coincidência. Sobretudo através do protagonista Carlos da Maia - personagem central da intriga e figura aglutinadora da crónica de costumes - Eça consegue imprimir uma unidade extraordinária à obra, ao mesmo tempo que recria um universo reconhecível, porque semelhante à realidade sua contemporânea. Acompanhemos, então, Carlos, desde a infância, até ao ano de 1875, data em que ele regressa a Portugal depois da sua viagem de fim de curso. Educado para vencer, ele surge na sociedade modorrenta de Lisboa como um foco de luz, uma energia nova. À chegada, vem cheio de projetos (Descansar primeiro e depois passar a ser uma glória nacional), mas, aos poucos, os projetos vão sendo adiados, até ficarem definitivamente adormecidos. O mesmo acontece com As Memórias de Um Átomo, de Ega, que nunca há de chegar a ser escrito. Que se passa, então, com essa geração de Carlos e Ega, tão ardente nos anos dourados de Coimbra, tão cheia de sonhos afinal incumpridos, que leva Ega a dizer no final do romance “Falhámos a vida, menino!”? Inseridos num contexto deplorável, eles são, ainda que críticos, membros da mesma sociedade de que faz parte o político Gouvarinho, o financeiro Cohen, o poeta decadente Alencar, o nada escrupuloso Dâmaso, o frouxo Eusebiozinho. E talvez por isso, os seus sonhos nunca se transformarão em realidade, pois eles deixam-se