LOUVANDO E DESLOUVANDO

689 palavras 3 páginas
Estâncias na medida antiga, que têm duas contrariedades, louvando e deslouvando uma dama
A partir da leitura das trovas “sois hũa dama”, de Luís de Camões, é possível notar uma aproximação entre a poesia camoniana e a poesia contemporânea pelos aspectos formais. Isto é, a poesia de Camões, apesar de distinta historicamente, é resultado de uma elaboração técnica que envolve engenho e arte, assim como a poesia aguda, a qual requer um leitor atento para obter sentido a partir das construções feitas de palavras.
Essa forma poética também conhecida como labirinto se dá a partir da contemplação do lúdico, ou seja, se configura como um jogo que, de acordo com a “Arte Poética Española”, de Rengifo, pode realizar-se de duas maneiras: ou o poeta quebra a linearidade de leitura, compondo versos que podem ter diferentes sentidos de acordo com a ordem em que são lidos, o que Rengifo define como labirinto de versos; ou o poeta cria um enigma figurativo, dispondo os grafemas de maneira que possam formar um desenho, o que Rengifo chama de labirinto de letras.
As trovas “sois hũa dama” se encaixam na descrição do labirinto de versos, e nelas são possíveis dois entendimentos contrários, o elogio e o vitupério da dama. Pela leitura na horizontal, em versos de arte maior, percebe-se o elogio: “sois hũa dama de grão merecer / das feas do mundo sois bem apartada”. Conforme lê-se na vertical, nota-se o vitupério em redondilha menor: “sois hũa dama / das feas do mundo / de toda a má fama / sois cabo profundo”. Essa composição de Camões segue regras próximas às de Rengifo, de modo que o que se afirma nos pares menores, nega-se nos pares maiores, e vice-versa.
Atentando para o léxico das trovas camonianas, é possível estabelecer um nexo entre elas e as cantigas galego-portuguesas, por causa dos predicados nominais que Camões utiliza para a construção das duas visões do feminino. Tomando como exemplo as cantigas de amor de D. Dinis (v. Dom Dinis, B 520/V 123), nas quais predicados como

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