Lolaqer

1578 palavras 7 páginas
A DUPLA PROVA

Há muito disseram que a coisa mais inútil do mundo era pôr uma mulher à prova; sendo tão conhecidos os meios de fazê-la sucumbir, e tão certa sua fraqueza, as tentativas tornam-se absolutamente supérfluas. As mulheres, assim como as cidades de guerra, têm, todas, um lado indefeso: trata-se apenas de procurá-lo. Uma vez descoberto, logo se entrega o campo; essa arte, como todas as outras, tem princípios, dos quais se podem deduzir algumas regras particulares, em razão dos diferentes físicos que caracterizam as mulheres que se ataca.
Há, entretanto, algumas exceções a essas regras gerais, e foi para prová-las que se escreveu esta história. O duque de Ceilcour, de trinta anos, cheio de espírito, dono de uma figura encantadora e, o que vale mais do que esses predicados todos, posto que faz os outros, possuía oitocentas libras de renda, que gastava com um gosto e magnificência de que não havia exemplo, há cinco anos desfrutava dessa prodigiosa fortuna, constando da lista de quase trinta das mais belas mulheres de Paris e, como começava a cansar-se, antes de tornar-se completamente insensível, Ceilcour quis casar-se. 53

Pouco satisfeito com as mulheres que conhecia, não tendo encontrado em todas senão arte em vez de franqueza, desatino em vez de razão, egoísmo em vez de humanidade, e jargão em vez de bom senso... tendo visto todas se entregarem apenas em razão do interesse ou do prazer, não encontrando em sua posse senão pudor sem virtude ou libertinagem sem volúpia, Ceilcour tornou-se difícil e, para não se enganar no caso do qual dependiam o repouso e a felicidade de sua vida, resolveu a um só tempo praticar tudo o que podia seduzir e tudo o que, assegurada a vitória, podia, destruindo a ilusão àquela a quem talvez a devesse, convencêlo do que realmente valera sua conquista. Essa sorte de manobra era garantida para conduzi-lo a uma apreciação razoável, mas quantos perigos o cercavam!
Acaso havia uma mulher no mundo que

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